Videoaulas valem mais que doutorado e experiência em concurso para professor de SP

Especialistas consideram que método faz professores se expressarem como youtubers; secretaria diz que vídeo avalia na prática a docência dos candidatos

Folha de São Paulo

Nova exigência no concurso para professores do estado de São Paulo, as videoaulas valem duas vezes mais do que ter uma pós-graduação e apresentar experiência em sala de aula. Com essa avaliação, candidatos com prática em produção de conteúdo online podem sair à frente de professores que já atuam em classe ou que tenham mais tempo de estudo.

Morador da zona leste da capital paulista, Ricardo da Silva Gomes, 57,
usou uma escada para improvisar um tripé de câmera e gravar a videoaula para o concurso -
Rubens Cavallari/Folhapress


A apresentação em vídeo é responsável por 40% da nota final, equivalente à soma das provas discursiva e objetiva, que valem 10 e 30 pontos, respectivamente. A prova de títulos, que soma formação acadêmica —como mestrado ou doutorado— e experiência profissional, dá até 20 pontos.

A Secretaria de Educação diz que a videoaula será usada para avaliar, por demonstração prática, as habilidades de docência dos candidatos. Questionada sobre por que os vídeos valem 40% da nota, a pasta não respondeu.

O envio das gravações, cujo prazo se encerrou em 30 de julho, foi a primeira etapa do concurso, antes das provas objetiva e discursiva, que ocorrem no domingo (6). No entanto, apenas aqueles com bom desempenho nos exames terão os vídeos avaliados.

Para o concurso, os professores gravaram uma apresentação de 5 a 7 minutos sobre um tema previsto no edital. O documento descreve que o vídeo deve ser uma simulação da aula, em que os estudantes estariam do outro lado da câmera.

Por ser uma novidade, docentes relataram dificuldades em fazer a gravação. Tiago Luz, professor de educação física e produtor de conteúdo online, deu início a um curso para candidatos nessa situação.

Ele diz que a iniciativa surgiu após receber, nas redes sociais, inúmeras dúvidas em relação à nova etapa do concurso. Com cerca de 80 inscritos, o curso ensinou desde como evitar vícios de linguagem até sobre o uso de ferramentas de edição no smartphone.

Segundo o professor, os candidatos, acostumados com a aula presencial, acharam difícil conduzir a apresentação em vídeo, sentindo-se inibidos diante da câmera.

"Eles tiveram que fazer um teatro, porque é diferente gravar um vídeo sem ninguém ali na frente, fingindo que tem um aluno. Você está mais atuando do que ministrando uma aula", afirma. Os critérios de avaliação vão além do conteúdo da aula, e incluem aspectos como postura e tom de voz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Artigo de opinião: Informação em tempo da Covid-19

Secretário da SBPC-RJ fala sobre o cenário científico e educacional do país

Indicação de artigo: Ciência, Senso Comum e Revoluções Científicas: Ressonâncias e Paradoxos

Noite desta sexta-feira terá chuva de meteoros