Artigo de opinião: Verdade que limita

Artigo publicado no dia 23/12/2022 no Jornal de Brasília

Bruno Lara - jornalista

Uma das primeiras tarefas de um professor quando orienta um estudante de mestrado ou doutorado é tirar o chão dele, desmoronar as ideias iniciais, ruir os fundamentos culturais que se confundem com os biológicos, frustrar as suas certezas, moer o seu ego, fazê-lo se sentir perdido. Calma, a pós-graduação strictu sensu parece um filme de terror, mas também é uma boa aventura. 

É uma delícia descobrir novas versões da gente, desbravar novos caminhos, sonhar com outros horizontes, perceber que muito da nossa “verdade” é um mero e frágil ponto de vista. O “real” tem um aspecto sociocultural que envolve uma série de fatores: família, escola, mídia, igreja, a própria personalidade etc.

Se você tivesse nascido na Índia, nos Estados Unidos ou na Coreia do Norte, por exemplo, teria outras referências culturais. As viagens, para além das selfies nos stories, têm essa função de mostrar a diversidade de modos de viver, embora haja uma certa pasteurização da cultura global. Por exemplo, dizem que no estado de Victoria, na Austrália, uma lei proíbe as pessoas de usarem calças rosas após ao meio-dia de domingo. O Restart não seria muito bem-vindo lá!

Esse processo nos ajuda a olhar o mundo, os fenômenos e até as pessoas com uma certa “distância”. Tem aquela máxima do Sócrates: “Só sei que nada sei”. Já o compadre Washington dizia: “Sabe de nada, inocente. Dúdúdúdú”. A pessoa muito cheia de si não tem noção do seu tamanho e da sua posição no Todo, sem contar que costuma ser chata. O ego inflado é um limite para o desenvolvimento e a humildade.

A pós-graduação e as pesquisas são um meio de nos colocar nessa instigante insegurança. Durante o processo, ganhamos força, descobrindo autores, teorias e vemos a real possibilidade de contribuir para a ciência brasileira. Até vir a banca com as suas cirúrgicas e mortais críticas construtivas!