Pioneiro na divulgação científica, José Reis incentivou presença de pesquisadores na mídia

De 100 anos do jornal, Reis esteve presente de 1947

até sua morte, em 2002, e chegou a ser diretor de Redação


José Reis, médico, cientista e jornalista especializado em microbiologia
e virologia, durante visita em escola de São Paulo (SP) - Folhapress.

Lia em latim, alemão e francês, entendia de física, química, microbiologia e administração pública, além de ser um pesquisador e divulgador científico internacionalmente reconhecido. Essas eram características do humano da Folha José Reis.

Julio Abramczyk, médico e jornalista que escreve para a Folha desde 1960, conta que “o legado que Reis deixou foi ter iniciado em nosso meio a saída dos cientistas da torre de marfim, onde viviam bem acomodados e isolados uns dos outros. Quem aparecia no jornal ficava mal-falado na comunidade científica”.

“Acredito que, graças ao pioneirismo de Reis, nesta pandemia ninguém estranha a presença de cientistas e pesquisadores colaborando com os meios de comunicação, explicando a Covid-19, seus problemas e os necessários cuidados”, diz o médico.

Luiza Massarani, coautora de “José Reis: caixeiro-viajante da ciência” (ed. Fiocruz/Casa de Oswaldo Cruz), e curadora do acervo José Reis, na Casa de Oswaldo Cruz, da Fiocruz, afirma que uma de suas principais lições foi dar a devida importância à divulgação científica e de se manter um diálogo entre cientistas e sociedade.

Dos 100 anos do jornal, Reis esteve presente de 1947 até sua morte, em 2002, e chegou a ser diretor de redação de 1962 a 1967, quando se instalou a ditadura militar.

Reis escreveu décadas depois: “Tarefa penosa em momento de transição e, para o jornal, de crise econômica, tudo isso agravado pelo advento da Revolução de 1964. Tinha, felizmente, colaboradores dedicados e prudentes, que me ajudaram a navegar em águas mais do que turbulentas sem comprometer o espírito de independência do jornal[...]”. Foi sob sua gestão que a Folha publicou editorial que apoiava o golpe de 1964 —50 anos depois o jornal reconheceu o erro daquele conteúdo.

Se por um lado Reis tinha bom trânsito entre os manda-chuvas da época e reclamava de “estudantes profissionais”, interessados em lutas políticas de grupos de esquerda nas universidades, também atuou na defesa da liberdade de expressão e de cientistas perseguidos. Segundo ele, o regime militar já não atendia aos interesses da sociedade, mas os de uma minoria.

Nessa época, entre comandar o jornal e debater o desenvolvimento do país, Reis promovia feiras de ciências para jovens no interior paulista para brotar nos estudantes o espírito crítico, com base na investigação e no conhecimento dos fenômenos químicos, físicos e biológicos. Daí o apelido: “caixeiro-viajante da ciência”.

Leia a matéria na íntegra.

Fonte: Gabriel Alves/Folha de São Paulo.

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