"O Museu, as fake news e a pós-modernidade"
Artigo de Marcos Raposo, do Museu Nacional/UFRJ, para a coluna Ciência & Matemática, do jornal O Globo.
Podemos analisar cada fato histórico em diferentes perspectivas. Uma delas é a perspectiva pontual, de causalidade imediata. Outra é a perspectiva histórica, que apresenta, na verdade, vários graus de aproximação.
O incêndio no Museu, há quase três meses agora, foi causado, em um nível mais imediato, pelas primeiras fagulhas de fogo. Olhando-se em uma perspectiva um pouco mais contextualizada, entretanto, vemos o descaso histórico de autoridades como um agente tão nocivo quanto o próprio fogo. Da mesma forma, no caso das famosas “fake news” podemos culpar a primeira pessoa a elaborar a tal notícia falsa ou apontar, em uma perspectiva mais ampla, como responsáveis, as redes sociais e sua total falta de filtros. As trágicas consequências de ambos os processos para nossa cultura e democracia são bastante bem conhecidas e não serão discutidas neste texto.
Aqui nós exploraremos um movimento histórico muito mais amplo, temporalmente mal delimitado e definido, mas que se impõe como potente pano de fundo responsável por inúmeras tendências que vivem deixando os observadores do mundo em que vivemos atônitos. Falamos aqui da pós-modernidade ou da condição pós-moderna como é comumente referida.
Ela, a pós-modernidade, pode ser entendida, simultaneamente e paradoxalmente, como o mais belo fruto do modernismo e também como uma aguda consequência de seu maior fracasso. Ela é uma conclusão inevitável dos avanços científicos e filosóficos da modernidade e, portanto, boa, mas é também o desalento de quem, não atento às advertências de Platão, conferiu ao nosso conhecimento um poder maior do que ele de fato poderia possuir.
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