“O contrato social entre ciência e sociedade precisa ser adaptado ao século XXI”, diz Luc van Dyck, da EuroScience

Conselheiro da organização de apoio à ciência e tecnologia na Europa fala em sessão especial da 67ª. Reunião Anual da SBPC sobre como nossas sociedades podem influenciar decisões de políticas científicas

Ampliar a participação da sociedade nas políticas científicas será tema de discussão na sessão “How our societies can influence Science Policy decisions” (Como nossas sociedades podem influenciar as decisões de políticas científicas, em português), no dia 14 de julho, durante a 67ª. Reunião Anual da SBPC, em São Carlos. Para o debate, a presidente da SBPC, Helena Nader, coordena a mesa que terá Tom C. Wang, da American Association for the Advancement of Science (AAAS) e o biólogo holandês Luc van Dyck, da EuroScience.

Dyck adianta que o primeiro passo para envolver a sociedade na política científica é fazer com que ela participe do processo de pesquisa. “Em termos de governança, por exemplo, para financiamento a agências de pesquisa e universidades, isso significa consultar os stakeholders e a sociedade sobre as prioridades de pesquisa”, comenta.

Para explicar essa relação entre ciência e sociedade, Dyck destaca o chamado “contrato social” entre ciência e sociedade. O conceito foi lançado no final da Segunda Guerra Mundial, e estabeleceu um acordo de reciprocidade por meio do qual a pesquisa científica financiada com recursos públicos tem o compromisso de privilegiar, e divulgar, estudos que visem o bem à sociedade, levando ao crescimento econômico e melhora na qualidade de vida.

Trata-se de um arranjo baseado em confiança mútua e reciprocidade. Mas, no entanto, o conselheiro da EuroSicence observa que a crescente  complexidade da ciência e, ao mesmo tempo, das necessidades da sociedade, além das possibilidades que as tecnologias de comunicação abrem, vêm colocando esse contrato em xeque.

“A internet e as mídias sociais abriram novas avenidas de compartilhamento, acesso e compreensão de dados, tanto para não-especialistas quanto para especialistas. Isso ampliou muito as expectativas de participação de stakeholders e sociedade, e uma maior responsabilidade dos cientistas, em termos de ética e integridade”, diz.

Tal abertura demanda uma ciência mais abrangente e participativa. “A necessidade de revisar o ‘contrato social’ entre ciência e sociedade, e adaptá-lo à realidade do século XXI vem sendo constantemente discutida e abordada”, informa.

Dyck ressalta que o papel das organizações de apoio à ciência, como a SBPC, no Brasil, EuroScience, na Europa, e AAAS, nos EUA, é justamente evoluir esse contrato de desenvolvimento da ciência para o benefício da sociedade. “Mas nós representamos apenas um dos stakeholders; existem muitos outros, que são tão legítimos quanto nós: cidadãos dos nossos países, indústria e empresas, organizações civis. Todos merecem estar envolvidos no processo deliberativo da política científica. Precisamos reconhecer que somos todos grupos de lobistas”, aponta. Daí a necessidade de ampliar as parcerias com os demais grupos e estimular a participação nos processos decisórios das políticas.

Para tanto, o cientista destaca a atuação essencial que a comunicação científica tem para engendrar o engajamento entre público e política científica. “Uma população bem informada é crucial para uma sociedade baseada no conhecimento”, conclui.

A discussão é aberta a todos e acontece a partir das 15h30, na terça-feira, 14 de julho. A programação completa da 67ª. Reunião Anual da SBPC, que se realiza entre 12 e 18 de julho no campus da UFSCar, em São Carlos, está disponível em http://www.sbpcnet.org.br/saocarlos/arquivos/programacao.pdf.


Fonte: Daniela Klebis/Jornal da Ciência.

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