Viver na terra e no mundo

Por: Aldo Barreto. 

Com a popularização da web por volta de 1995 podemos diferenciar uma ambiguidade vivencial de estar na terra ou ficar no mundo. A terra é a parte sólida do globo, espaço e território da vida temporal profana e física.  E é na força desta atração que a terra passa a ocupar um lugar no universo das realizações físicas;  um lugar que converte o espaço em possibilidades de:  fixar, espacializar e localizar.  Ao longo da história, a terra tem proporcionado aos homens os recursos para criar, viver, morrer.

No mundo virtual vivemos potencialmente. Eu existo virtualmente no mundo sem distancia espaço ou tempo definido. Minha vivência é a da conexão e meu destino são os meus links.  Potencialmente  existo na translação da metáfora, na transferência das minhas narrativas para um âmbito simbólico que não é fixo, físico ou designado e se fundamenta num movimento sem corpo.  Na terra vivemos presos a uma presença física para exercer nossas ações; no mundo potencial vivemos sem uma presença física.

É difícil entender e observar o momento exato em que estamos inseridos. Existe uma proximidade alienante que nos impede de ver à atualidade de nossa vivência. Existe uma relação intrincada entre nós e o tempo que  nos impele a viver suspenso entre duas conjunturas:  a terra e o mundo.  Habitar uma realidade é um entendimento de estar ali com intensidade.  Talvez por isso não possamos ter o afastamento necessário para entender que habitamos hoje duas realidades: uma realidade objetiva onde vivemos corporalmente com uma presença e outra realidade potencial de rompimento com as formas tradicionais do acontecer e sendo posto do ao atual carrega uma potência de ser. Nessa realidade, por suas características, vivemos sem a presença física,  sem distancias ou superfícies.  Nela podemos ser o avatar de tudo aquilo que sonhamos ser na realidade contemporânea. 

É importante saber, então, que habitamos hoje  duas realidades na mesma época. Esta anfibiedade que vivemos é a capacidade adquirida de morar e interatuar em contextos e condições diferenciadas. É a anfibiedade do animal que pode viver no solo ou na água. Aterrado no viver físico da terra ou libertado de amarras para viver no mundo potencial. 

A evolução da web nos levou a está vivencia diferenciada e a esta nova condição de sermos anfíbios. Uma anfibiedade que faz nosso viver na realidade da objetiva e na realidade potencial onde existimos linkados aos outros que executam a transferência do que somos para um significado decidido pelos que nos designam no mundo potencial.

Texto de Aldo Barreto originalmente publicado no blog do autor (http://aldobarreto.wordpress.com/)

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