Jornalista da Faperj se diz otimista em relação à divulgação da C&T
Uma visão otimista. Esta frase poderia resumir (bem
resumido) a perspectiva do mais recente entrevistado do blog Dissertação Sobre Divulgação Científica. O jornalista Paul Jürgens, 53 anos, acredita que o crescente interesse pela ciência e tecnologia (C&T) se reflete nos noticiários. "Esse quadro é fruto, entre outros aspectos, dos investimentos no campo e da vontade social de saber mais sobre a C&T”, declara.
Nascido em Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro,
Paul responde pela Assessoria de Comunicação da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), é correspondente da revista francesa Courrier
Internacional (ligada ao Le Monde) e foi representante
brasileiro da ONG Repórteres Sem Fronteiras, que defende internacionalmente a
liberdade de imprensa.
Paul Jürgens graduou-se em jornalismo em 1981 no Centro
Unificado Profissional (hoje a Faculdade da Cidade) e cursou o mestrado na
Universidade do País de Gales, onde foi bolsista do British Council. Filho de
pai industrial e mãe advogada, ele diz ser apaixonado por leitura e ter chegado por acaso ao campo da divulgação científica.
Confira a entrevista:
Como foi a sua inserção na divulgação científica e
tecnológica?
Paul Jürgens: O meu primeiro contato com o campo foi em
2001, quando após um período na Europa eu retornei ao Brasil para atuar como
bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) em um projeto interdisciplinar de organização do rico acervo do Museu
Nacional, onde fiquei por dois anos. Basicamente, a minha atividade era a de
elaboração e revisão de textos. Antes de conhecer mais de perto a DCT, a minha experiência foi em outras editorias do jornalismo, como na cultura, geral e esportes.
E como você chegou à Faperj?
Paul Jürgens: Em 2003, eu e uma colega que atuava na
editoria de Ciências do Jornal do Brasil recebemos uma proposta para trabalhar
na reformulação da Assessoria de Comunicação da Faperj. A partir daí, pude expandir,
conhecer melhor e consolidar o meu conhecimento na divulgação.
Como você classifica a atual realidade da divulgação
científica nacional?
Paul Jürgens: O campo vive um período de prosperidade, após
muitos altos e baixos. Antes, o desenvolvimento da DCT ocorria por iniciativas
pontuais e isoladas de pessoas e grupos interessados em difundir os conceitos
de Ciência e Tecnologia (C&T) no país. Hoje, a evolução e os investimentos da
popularização estão solidificados e há mais profissionalismo, unidade e
homogeneidade que orientam o aperfeiçoamento do sistema.
Esse quadro reflete a crescente importância que a educação e a C&T têm assumido na sociedade pós-moderna. Considero, portanto, a DCT como um campo promissor e que a médio e longo prazos ocupará um espaço mais significativo no noticiário. Há muito o que percorrer, é verdade, mas estamos no caminho.
Esse quadro reflete a crescente importância que a educação e a C&T têm assumido na sociedade pós-moderna. Considero, portanto, a DCT como um campo promissor e que a médio e longo prazos ocupará um espaço mais significativo no noticiário. Há muito o que percorrer, é verdade, mas estamos no caminho.
Quais são as prioridades pontuais que norteiam as atividades
da C&T e da DCT?
Paul Jürgens: Difícil dizer, pois cada segmento possui as
próprias prioridades. A ideia de interdisciplinaridade revela que a perspectiva
atual é a interação e o diálogo entre áreas e disciplinas – relacionamento
sempre pautado pela inovação.
Como você observa o tradicional conflito e a falta de
entendimento entre divulgadores e cientistas?
Paul Jürgens: O cenário de resistência e incompreensão vem
mudando de uns anos para cá, e o crescente número de assessorias de imprensa
dentro das instituições de pesquisa revela tal aproximação e intensificação dos
diálogos. Os pesquisadores estão mais conscientes do papel da DCT dentro do
sistema da C&T. Todos já reconhecemos que a divulgação contribui, entre
outras funções, para sensibilizar e elevar o nível cultural e educacional da
sociedade, além de dar visibilidade a setores para a conquista de apoio e
investimentos por parte das instituições públicas e também privadas.
"Enquanto o pesquisador trabalha há anos em um determinado projeto, os jornalistas precisam se adequar às expectativas da sociedade e facilitar a expressão das informações. O principal desafio é encontrar esse equilíbrio"
Apesar do aperfeiçoamento, ainda há barreiras que prejudicam a interação. Quais são essas dificuldades?
Paul Jürgens: O problema principal é a transposição das
linguagens codificadas. Quase sempre as informações científicas são densas e
inseridas em um contexto técnico e complexo. Enquanto o pesquisador trabalha há
anos em um determinado projeto, os jornalistas precisam se adequar às
expectativas da sociedade e facilitar a expressão das informações. O principal
desafio é encontrar esse equilíbrio, ser acessível sem prejudicar a qualidade
da produção original.
Quais as habilidades o profissional da DCT e os cientistas precisam
adquirir para a atividade de divulgação ser exercida com qualidade?
Paul Jürgens: Bem... o jornalismo, especificamente, é um
campo dinâmico, exige uma formação diferenciada, sensibilidade para lidar com o fluxo informacional e, no caso, muito interesse pela ciência. Já o pesquisador precisa absorver melhor os anseios sociais
pela informação em C&T e ser mais receptivo. A contribuição dele é fundamental para o êxito do processo.
Qual a sua opinião sobre o impacto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nesse relacionamento?
Paul Jürgens: Tudo o que contribuir para o aperfeiçoamento e
a agilidade do contato entre ambos é válido. As novas tecnologias representam o
progresso e devem, com certeza, ser aproveitadas, pois já fazem parte do
cotidiano social.
Há algum tópico sobre o qual gostaria de comentar, mas deixamos
de abordar na entrevista?
Paul Jürgens: Acho que conseguimos abordar tópicos
relevantes sobre o tema. Estou satisfeito.
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