Entrevista: Carlos Vogt fala sobre seminário e divulgação científica
O II Seminário Internacional Empírika será realizado nos
dias 26 e 27 de outubro na Universidade Estadual de Campinas-SP (Unicamp). Um
dos pesquisadores responsáveis pela organização do evento, o linguista Carlos
Alberto Vogt, concedeu entrevista ao blog Dissertação Sobre Divulgação
Científica, na qual fala sobre o encontro, que integra a programação da feira
“Empírika –Ibero-americana da Ciência, Tecnologia e Inovação”.
Vogt se mostra otimista em relação ao contexto do sistema de C&T e à comunicação com o público extra-acadêmico. Para ele, uma clássica barreira à divulgação, as tensões entre divulgadores e cientistas, já foi “bastante superada”- conquista alcançada, inclusive, com o esforço de muitos cursos de pós-graduação, entre eles, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Unicamp, do qual é ele coordenador.
Carlos Vogt também é diretor de redação das
revistas ComCiência e Univesp, consultor do periódico Ciência e Cultura,
coordenador e um dos idealizadores da Universidade Virtual do
Estado de São Paulo (Univesp), instituição pública de ensino que está em
fase de implementação. Ele também foi reitor da Unicamp (1990 e 1994), presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp,
2002 a 2007) e vice-presidente da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (2001-2005).
Leia a entrevista
O que é o Seminário Empirika e qual impacto o evento gera no
campo da C&T e da divulgação científica e tecnológica (DCT)?
O seminário é um rico espaço de debates, discussões e trocas de
experiências. Possui sintonia com as propostas da feira Ibero-americana de C,T&I, cujo objetivo é incentivar a população para o amor à ciência,
para a promoção da cultura científica e tecnológica, uma marca da sociedade
contemporânea. A programação será composta por palestras, apresentações de
trabalhos produzidos por estudantes de pós-graduação, com a participação de
pesquisadores, entre uma série de atividades. Há, também, a realização do Café
ComCiência, espaço onde o público tem a oportunidade de interagir, trocar opiniões
e expor pontos de vista.
Para quem não tiver a oportunidade de comparecer à feira, o
evento oferece a modalidade virtual Polis
Empirika, a cidade do conhecimento que ficará disponível até, pelo menos,
2018, quando a Empírika retorna à Universidade de Salamanca (Espanha), em
celebração aos 800 anos da instituição. Foi lá que ocorreu a primeira edição,
em 2010, com a participação de 33 mil pessoas. Em 2014, o evento ocorre no
México e em 2016, na Colômbia.
Por que a parceria com a Espanha?
Bom, esses relacionamentos são frutos de contatos
construídos ao longo do tempo pelas interações acadêmicas e pessoais entre
pesquisadores e instituições. Um exemplo muito interessante é a criação da Agência
de Notícias para a Difusão da Ciência e Tecnologia (DiCYT) da Universidade de
Salamanca, que foi baseada na agência de notícias da Fapesp, surgida em 2003. A
produção do LabJor, particularmente, possui esse viés de parceria e cooperação
para a elaboração de pesquisas, artigos etc.
Embora a organização seja entre o Brasil e a Espanha, o
evento abrange outros países identificados pelo espaço ibero-americano de
conhecimento.
Quais são hoje os grandes temas da divulgação científica?
Eu vejo e proponho a observação da cultura científica sob a
ótica do que denomino de espiral da cultura científica, conforme apresentei em
um artigo
publicado ano passado na revista Public Understand of Science. Nesta
perspectiva, apresento os seguintes quadrantes que envolvem o ambiente da
C&T: a) a comunicação fechada entre cientistas para a produção de
conhecimento; b) a comunicação promovida pelo ensino da ciência; c) o ensino
para a ciência (em que estão inseridos prêmios, feiras, a Semana Nacional de
C&T, entre outros); d) a efetiva relação entre ciência e sociedade, em um
esforço para traduzir, colocar em metáforas sensíveis conceitos normalmente
abstratos e que fogem ao alcance da linguagem cotidiana.
A partir daí, entendo
ser relevante todos os aspectos, cada qual dentro da própria lógica, seja da
interação pela produção, para o ensino ou mesmo para a divulgação à sociedade.
Tomando como base o desenvolvimento da C&T, em que
patamar podemos identificar a DCT no Brasil hoje?
A DCT tem crescido bastante. Hoje, desfrutamos
de uma evolução capaz de acompanhar o ritmo acelerado da própria C&T. São
muitos os exemplos de atividades de qualidade: a Revista Ciência Hoje; o Jornal
da Ciência e outras iniciativas da SBPC; a Revista Pesquisa Fapesp; a própria agência de notícias da Fundação; a
retomada da Revista Ciência e Cultura, da qual tive a satisfação de atuar no
desenvolvimento do projeto editorial; a revista ComCiência; além de ações
diversas na internet, como o seu próprio blog. Também é importante salientar
apoios institucionais da Capes e do CNPq, como a aba inserida na plataforma
Lattes para a inserção de ações de comunicação pública.
Tais atividades incentivam a criação de outras medidas, e considero importante comentar sobre o Programa José Reis de Incentivo ao Jornalismo Científico (Mídia Ciência), criado em 1999 pela Fapesp para contribuir na formação de profissionais que trabalham com o fluxo informacional da DCT.
Qual tem sido a contribuição do LabJor neste
contexto?
O Laboratório faz parte de um importante movimento educacional
em benefício da qualidade da divulgação. O papel do Labjor tem sido fundamental
na pesquisa e formação de profissionais que atuam no campo.
Em 1999, foi criado o curso de Pós-Graduação
lato sensu em Jornalismo Científico, através do qual já capacitamos 281 profissionais,
tanto jornalistas quanto cientistas, numa média de 50% cada. Há cinco anos,
surgiu o Mestrado em Divulgação
Científica e Cultural, que já soma cerca de 20 dissertações defendidas. Agora,
estamos na fase de implementar o programa de doutorado.
Uma preocupação do Labjor é constituir turmas compostas por jornalistas e cientistas, o que facilita bastante a interação entre ambos os meios. Nesta mistura, também procuramos aproximar pessoas de diferentes faixas etárias e experiências profissionais, permitindo o enriquecimento através do entusiasmo da juventude e amadurecimento dos mais experientes. A dinâmica é multidisciplinar, mas com cautela o suficiente para evitar o aprisionamento por determinada área e o generalismo vago, improdutivo.
Qual é o perfil adequado para um profissional da DCT?
É muito importante o interesse pelo conhecimento, seja em
relação aos fatos espetaculares (promessa de longevidade, cura, domínio de
pragas na agroindústria etc.) e à relevância social e econômica das pesquisas, seja
sobre a própria concepção do campo - teorias, formas e conceitos a respeito da
transposição consistente e fiel da linguagem fechada para a comunicação
inteligível. No caso de um cientista, ele precisa exercer a habilidade para dialogar
com os meios externos à academia. Ele deve deixar-se envolver.
Como o senhor observa a relação entre arte e ciência,
cenários que fazem parte da sua carreira?
Ao construir a metáfora da espiral da cultura científica,
tive a satisfação de entender a minha atração pelo conhecimento de C&T e,
ao mesmo tempo, pela beleza poética da literatura, poesia etc. É uma relação
que envolve conhecimentos de diferentes formas, metodologias e teorias, mas do
ponto de vista humano e interacional, há traços em comum produzidos pelo
fenômeno da busca pelo saber, o que mostra o constante estado de ignorância cultural
do ser.
A nossa permanente procura os remete à limitação da
capacidade de formularmos o conhecimento, mas também expõe a falta de limite no
que tange às condições de atividades críticas que nos movem para novas
revelações. A relação literatura e ciência é visceral, cujos pontos comuns e de
diferenças estão na linguagem e nas formas de comunicação.
Há nos estudos da DCT uma questão clássica que é a relação
entre divulgador e pesquisador. Essa é uma tensão que ainda persiste no dia a
dia?
Acredito, por experiência própria, que este tópico já esteja
superado. A multidisciplinaridade dos cursos oferecidos pelo Labjor é um
exemplo disso, inclusive no que diz respeito à interação entre os profissionais
seniores e os principiantes. Observo que as tecnologias da informação e
comunicação também têm contribuído bastante para o novo quadro de aproximação, cujas
consequências se manifestam também nos veículos impressos e na radiodifusão. Essa
evolução permite à divulgação estar mais consolidada e valorizar-se ainda mais.
Há algum tópico sobre o qual o senhor gostaria de comentar
na entrevista, mas deixamos de abordar?
Acho que não, conversamos sobre diversas questões
interessantes!
Serviço:
Seminário Internacional Empírika
Data: 26 e 27 de outubro
Local: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Realização: Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo
(Labjor) e Programa de pós-graduação Mestrado em Divulgação Científica e
Cultural (MDCC-Labjor-IEL-Unicamp)
Mais informações: clique aqui
Empírika – Feira Ibero-americana da Ciência, Tecnologia e
Inovação
Data: 23 a 25 de outubro
Local: Expo Barra Funda em São Paulo-SP
Realização: Labjor e Feira Tecnológica do Centro Paula Souza
(Feteps)
Mais informações: clique
aqui
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