Entrevista com Fernando Moreira, ex-presidente da ABTU
Fernando Moreira, ex-presidente da ABTU, no evento TVMorfosis. Arquivo pessoal. |
Informação, cultura, arte e educação são alguns dos princípios que devem nortear as atividades das televisões no Brasil. Para o segmento das TV's universitárias, esses são conceitos presentes nos trabalhos diários, pautados pela cidadania, respeito ao público e conhecimento. A primeira emissora de TV universitária no Brasil data de 1967, mas só mais recentemente o campo conseguiu um espaço político e social mais consolidado, ainda que aquém das suas demandas, capacidades e dos seus projetos.
A Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU) completa 20 anos em outubro de 2020. A instituição foi criada no histórico teatro do Tuca, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2000, com a participação de 25 instituições de ensino superior. Hoje, a ABTU tem 34 associadas. A proposta naquele momento era integrar as emissoras, estimular e divulgar a produção audiovisual desse campo.
Desde então, a Associação teve três presidentes. Quem mais tempo ocupou o cargo foi o professor Fernando Moreira, por quatro mandatos consecutivos, entre 2012 e junho de 2020. O blog Dissertação Sobre Divulgação Científica conversou com ele sobre a experiência, as conquistas e as dificuldades enfrentadas à frente a ABTU. "Dentro da nossa realidade, com o exercício de trabalhos voluntários, conseguimos importantes avanços. A ABTU só cresceu, não houve regressão, conquistando aos poucos os objetivos". O Diretor da TV Univap falou, ainda, sobre os desafios e a perspectiva que ele tem para o campo das TV's universitárias.
Confira a entrevista!
Que balanço você faz das suas gestões à frente da ABTU?
O foco das minhas gestões foi, primeiro, fazer funcionar o grande sonho da Rede Integrada de Televisão Universitária (RITU), uma das primeiras experiências desse tipo no mundo. O projeto começou junto à Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), mas aos poucos houve desvio das finalidades do projeto. Não se desenvolveu conforme esperamos.
Percebemos, também, que esse projeto não previa um repositório, o que era fundamental para concretizarmos um arquivo da história das televisões universitárias. A Rede só permitia intercâmbio. O material arquivado era apagado a cada sete dias. Nós fizemos uma pesquisa para tentar solucionar isso e encontramos uma ONG internacional para desenvolver as atividades. A organização, que hoje virou uma empresa estabelecida nos Estados Unidos, continua nos dando apoio ainda hoje em dia.
Essa empresa tanto mantém o repositório quanto libera o uso de um sistema open source de intercâmbio que permite às TVs acessarem um repositório com senha. Embora atenda às nossas necessidades básicas, ainda temos algumas restrições. Por exemplo, nós temos acesso a quem faz upload do material, mas não temos muitas informações sobre quem está baixando os vídeos, o que seria importante.
Para solucionar isso, estamos trabalhado com uma empresa brasileira, a Mídia Portal, que atende a grandes empresas, como a TV Cultura e a TV Bandeirantes. É um modelo de transição de sistema que atende melhor às nossas necessidades, a um custo acessível para a ABTU. Os trabalhos atrasaram um pouco por causa da pandemia, mas quando avançarmos, será uma grande conquista. É um sistema muito mais sofisticado, com o uso de inteligência artificial, reconhecimento de voz, ou seja, no mais alto nível das redes de intercâmbio hoje.
Outro avanço feito no período das minhas gestões foi a consolidação da imagem externa da ABTU. Hoje, a Associação faz parte da direção executiva da maior associação de televisões educativas do mundo, a Asociación de las Televisiones Educativas y Culturales Iberoamericanas (ATEI).
Uma terceira frente foi a consolidação da primeira revista acadêmica brasileira sobre televisão universitária e educativa. Hoje, o periódico já está no sexto número, sendo editada todos os anos, o que mostra regularidade. Interessante é que o periódico já está no Qualis/Capes, sem buscarmos isso. Conseguimos a pontuação após constantes citações dos artigos publicados pela revista.
Portanto, esses são os destaques das minhas gestões: a consolidação da RITU, a internacionalização da ABTU e a nossa revista acadêmica.
Recentemente, a ABTU criou o canal Tube? O que é e como funciona o canal?
O Tube foi criado para ser o canal nacional universitário brasileiro. A nossa inspiração vem do canal colombiano Zoom, formado por 40 TV's universitárias com transmissão via satélite. A grande diferença é que o Zoom recebe recursos do Ministério da Educação e do Ministério da Ciência e Tecnologia. Isso permite a eles ter uma estrutura bem mais sólida de trabalho e planejamento. No Brasil, o Tube nunca teve tamanho apoio.
Nós conseguimos registrar junto à Ancine a ABTU como a operadora do Tube. Depois de obtermos esse documento, fomos conversar com as operadoras. A partir do momento em que você é operador de um canal universitário nacional, todas as operadoras de satélite têm obrigação de entregar o sinal, por força de lei. Mas, é mais um custo e um trabalho a mais para essas empresas. Embora sejam obrigadas, elas não têm muito interesse. Aí, começa uma maratona.
A primeira operadora que nós buscamos foi a Sky, porque entendemos que era a que atendia a todas as TV's universitárias vinculadas à ABTU, nas diversas regiões. Depois de muito tempo, a Sky aceitou a ABTU como operadora, em termos, porque exigiu uma carta da Ancine. Nós não conseguimos a carta, mas temos o registro que prova a ABTU como legítima operadora do Tube. Depois, veio a pandemia e tudo parou.
O problema maior é como a ABTU vai manter esse canal, que logicamente vai ter um custo. Mesmo a gente utilizando bastante tecnologia, baixando os custos, haverá a necessidade de recursos, o que hoje a ABTU não tem condições de bancar.
Começamos a pensar modelos de negócio que contemplem parcerias. A estratégia inicial foi, primeiro, fazer um acordo com a ATEI. Existia um canal dentro de um site deles, mas esse canal não podia ser ao vivo. No fim do ano, conseguimos uma parceria via ATEI com a Daily Motion. A gente ia começar os testes em março, mas veio a pandemia e tivemos que interromper.
O canal está rodando de forma experimental dentro do Daily Motion, sem a necessidade de monetização de conteúdos, porque são diversos os tipos de TVs ligadas à ABTU, como instituições privadas, públicas e comunitárias. O tratamento econômico varia muito conforme os perfis institucionais.
Ainda tem vários passos a serem dados, inclusive pensar se essa é a realidade para o futuro. Isso cabe à nova diretoria da ABTU. É papel dessa juventude. O caminho está preparado.
Qual é, na sua opinião, o papel da TV universitária e da ABTU nessa pandemia, inclusive em relação às fake news?
O papel é muito importante. A questão é saber como realizar as atividades durante a pandemia. Com exceção de algumas TV's universitárias, que têm estrutura de televisão aberta e que estão conseguindo manter as grades de programação, a maioria foi obrigada a se retrair, como as próprias universidades em si. Com o trabalho remoto, as TV's perderam grande capacidade de produção, o que significa trocas mínimas de programação. Com isso, as emissoras estão recorrendo a alternativas, como recursos tecnológicos e as redes sociais.
Tem havido uma espécie da reinvenção da TV como um todo. Há séries americanas cujas cenas são feitas nas próprias casas dos atores. É um tempo de adaptação.
A TV universitária tem o papel de continuar com a sua missão. A primeira delas é mostrar a função da universidade, ajudando a colaborar com a difusão do que acontece dentro dessas instituições. Isso ajuda a reforçar publicamente a importância da ciência, tecnologia e da educação, que são os principais pilares da TV universitária. A cultura também compõe, mas em proporção um pouco menor porque está mais presente nos outros tipos de emissoras.
Em relação às fake news, o nosso papel como comunicadores e educadores é esclarecer sobre conceitos e comportamentos de saúde e higiene, por exemplo. O momento não é de polemizar, mas sim contrapor a boa informação com a má informação. À universidade, em alguns momentos, realmente cabe promover espaços de discussões e polêmicas. Mas, pensando como união de país, eu acho que a gente deve muito mais trazer informações boas e de qualidade do que polemizar.
Eu sempre tive a precaução de não submeter a TV universitária a situações de risco, dentro do contexto institucional. Quando colocamos a TV em posições polêmicas, a importância da emissora passa a ser questionada por alguns grupos. Por que gerar essa situação, se eu posso trabalhar tantos aspectos positivos e agregadores do canal. Uma polêmica levantada gera grupos a favor e contra, criando um ambiente que pode prejudicar a TV, dependendo da cadeia de comando da universidade. Isso não significa se omitir, mas saber colocar alguns temas de forma mais informativa e menos combativa. Agora é hora de focar nas pesquisas, no que, principalmente, os departamentos de saúde estão realizando.
Em 2020, a ABTU completa 20 anos. Qual é a sua análise dessa trajetória? As ideias iniciais foram alcançadas?
Muita coisa que a gente gostaria não foi atingido plenamente, como a sociedade e o poder público entenderem melhor a importância das TVs universitárias. Acho que a gente falhou nisso. Mas, dentro da nossa realidade, com o exercício de trabalhos voluntários, conseguimos importantes avanços. A ABTU só cresceu, não houve regressão, conquistando aos poucos os objetivos.
Nos dois primeiros mandatos da Presidência da ABTU, nós tivemos uma consolidação da ABTU como uma força política, em que a Associação encontrou espaço para se manifestar em espaços públicos e do Estado. Mas, infelizmente, até pelo pouco valor que a educação tem no Brasil, parte significativa dos nossos esforços e manifestações não surtiram os efeitos esperados. Muito tempo e esforços em viagens e reuniões foram pouco produtivos, do ponto de vista dos resultados.
Outras associações de TVs educativas não conseguiram se manter. A própria Associação das TV's Educativas fechou, com grandes dívidas, e agora está ressurgindo como instituto. Mas, a ABTU está aí, há 20 anos conseguindo se manter e avançar. Para organizações não governamentais, só em estar vivo e crescer passo a passo, já é uma grande conquista.
Esses anos poderiam ter sido mais produtivos? Sim. Eu, por exemplo, sou bom para juntar e organizar pessoas, mas não sou um, digamos, especialista em juntar dinheiro e gerar recursos. As pessoas enxergam as TVs universitárias como parceiras e vitrines de trabalho, mas não enxergam com potencial para investir. É muito difícil vender a TV universitária como investimento, até porque cada TV tem características administrativas, organizacionais e jurídicas diferentes. Para algumas emissoras, é relativamente fácil receber recursos financeiros, enquanto para outras TVs o processo é mais burocrático.
Houve um momento em que um governo passado apresentou uma proposta para oferecer recursos para as TVs universitárias. Eu tomei uma decisão monocrática de negar porque percebi que a intenção não era ajudar, mas sim comprar votos. A ideia era tornar as TVs mais simpáticas a determinados movimentos dentro daquele determinado governo. Eu sei que outros segmentos de TVs aceitaram. Centenas de emissoras receberam 30 mil reais para fazer o que quisessem.
Eu perguntava o porquê de o governo estar entregando o dinheiro. Eu não queria receber pela ABTU, mas sim que cada TV recebesse individualmente e de acordo com o índice de participação da emissora na região, como acontece com as emissoras comerciais. É assim que se compra publicidade nos canais. Eu não entendia o porquê de um valor único para todas, e o motivo do gerenciamento ter que ser da ABTU.
Hoje, a ABTU poderia ir mais adiante, como foi a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), por exemplo? Sim. Mas, o tamanho da associação tem a ver, também, com os recursos financeiros. A mensalidade da Abert é alta. Então, conseguem ter um bom caixa para gerir muito mais projetos e atividades.
A ABTU tem uma proporção menor, mas conseguimos dar continuidade a algumas ações importantes, como as nossas reuniões a cada dois anos, parcerias internacionais, como a realização do evento TVMorfosis, que veio do México, viabilizando a participação de algumas associadas da ABTU.
Eu vejo que a nova turma que está entrando já está criando comissão para buscar recursos financeiros, o que é ótimo. Espero que a ABTU só cresça e que a nova diretoria consiga abrir novos caminhos, contornando as dificuldades com a criatividade da juventude e com o apoio de todos nós.
Uma característica interessante na ABTU é que não há conflitos por poder e posição. Nós temos um espírito de colaboração muito grande. Quando um presidente sai, ele atua como assessor do novo presidente, oferecendo a sua experiência como contribuição.
Na sua opinião, como a ABTU e as TVs universitárias têm aproveitado as oportunidades das redes sociais?
Em relação à ABTU, a gente poderia ter tido uma ação bem mais forte nas redes sociais. Mas, esse trabalho requer o mínimo de recursos e de grupo para gerenciar as atividades. Muitas vezes é difícil obter informações das associadas, inclusive porque cada uma delas tem os seus trabalhos, as suas demandas, prioridades e limitações. Já houve situação em que uma emissora não queria conceder entrevista por Skype, ou seja, tendo resistências às oportunidades tecnológicas, o que hoje já é bem menor.
Mas, eu acho que a gente deveria ter tido, sim, uma participação maior nas redes sociais. Além de tudo, na ABTU a gente não tem um grupo de produção. Somos um grupo administrativo formado por três pessoas: uma gerente, uma assessoria de imprensa e uma secretária que cuida dos recursos financeiros.
Já as TV's em si tiveram um crescimento muito grande no desempenho das redes sociais. A maioria já usava o Youtube como repositório, e depois passou a adotar outras redes como meio de difusão, como o Facebook e o Instagram. Para atingir públicos variados, é preciso mesmo usar plataformas variadas também. Então, individualmente, as universidades têm um trabalho muito bom nas redes sociais.
Recentemente, a ABTU lançou o Mapa 4.0, com um levantamento das televisões universitárias no Brasil. Que mapa é esse? Quais resultados interessantes você destacaria?
Esse foi um trabalho apresentado pela nova diretoria da ABTU. Então, eu prefiro que o novo presidente, Fabiano Pereira, e o Cláudio Magalhães, do Conselho Consultivo, falem sobre o projeto, já que eles estiveram à frente do levantamento.
Você é bastante familiarizado com as tecnologias do campo audiovisual. Como você aprende sobre isso, quais são as suas fontes? E quais são as tendências tecnológicas para a TV universitária?
Eu, de fato, tenho esse caráter meio tecnicista. Sempre busquei produzir com mais tecnologia e com menos dependência de outras pessoas. É uma discussão que eu tenho bastante com os alunos também. Eu tenho realizado uma pesquisa sobre a figura do diretor de TV virtual. Eu criei uma empresa que tem o objetivo de pesquisar e trabalhar com alunos e ex-alunos sobre tecnologias audiovisuais. O diretor de TV virtual elimina algumas funções, como o cameraman. Por outro lado, permite a atuação do profissional em outras funções, como trabalhos com infográficos e geração de informação. Emissoras grandes fazem muito bem isso. Por que TV's menores não podem fazer?
É uma evolução. Equipes de TVs que saem às ruas já foram maiores, com 4 pessoas. Hoje, em alguns casos, está reduzida a uma pessoa, que é o videorrepórter. A tecnologia permite isso. Não quer dizer, necessariamente, queda do emprego, mas gera outras oportunidades e atribuições. Nós temos que entender a tecnologia por dois lados, então. Nós precisamos estar mais aptos a desenvolver determinadas habilidades para conseguir acompanhar o mercado.
Uma das minhas principais fontes de informação sobre tecnologia é a feira da National Association of Broadcasters (NAB), a maior exposição sobre televisão do mundo, que acontece nos Estados Unidos. Pouca gente sabe dessa feira, talvez pela limitação do inglês entre os profissionais da área aqui no Brasil. Todo os anos eu vou à feira procurar tendências. Muito do que aprendo, em relação a equipamentos e softwares, eu passo aos alunos, ex-alunos e colegas de profissão. No Brasil, eu costumo participar do evento da Abert, que conta com a parceira da ABTU.
Isso faz com que a gente tenha acesso ao que os engenheiros estão fazendo. Os engenheiros, porém, não têm muita habilidade com comunicação. Não costumam ter atenção com iluminação, recorte da cena, ângulo da câmera, ainda que manipulando equipamentos de milhares de dólares. Então, é preciso conhecer a técnica e aplicá-la em comunicação. As TV's são importante espaço de treinamento para a comunicação e operacionalização.
A gente tem que ver a tecnologia como parceira, como ela pode nos ajudar. A TV universitária pode ser pioneira, espaço de testes e experimentação das tecnologias. A TV Univap, por exemplo, sempre foi ambiente de experimentação, tentativas de inovação, buscando fazer acontecer a um custo mais baixo.
Como você analisa a legislação nacional que dá suporte e regula o campo das TVs universitárias?
A lei 12.485 de 2012 é um evolução da Lei do Cabo, passando a obrigar a criação de uma figura jurídica de canal universitário em cada localidade. Por um lado, é até bom criar outro CNPJ para fazer outras atividades. Mas, é complicado criar uma entidade jurídica para ter a TV Univap, por exemplo. Hoje, nós estamos no CNPJ da Universidade. Se tiver que pagar a Ancine, pagamos como uma empresa que tem quase mil funcionários.
Uma universidade pública federal, por exemplo, como vai participar com outro CNPJ? Não pode. No máximo pode criar uma fundação. Isso nós colocamos no Ministério das Comunicações à época, mas deixaram passar. Esse problema abre uma brecha jurídica para a nossa área.
Outra questão é a relação do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) com a TV universitária não associada à TV educativa. Eu tenho um e-mail de anos atrás do Ecad dizendo para a gente não se preocupar porque a TV universitária não tem obrigação no recolhimento. Mas, é um e-mail sem validade jurídica. Nós não temos proteção alguma em relação a isso. Se cobrarem das TVs universitárias, muitas fecham.
Outra situação é quando a TV universitária vai para o canal aberto, perdendo o pouco de proteção que tem, sendo considerada dentro das condições da TV aberta. Aí, muda a figura jurídica. Há outras obrigações e regulações que não protegem o nosso campo.
O que a lei de 2012 nos trouxe foi que a TV universitária passou a ser obrigatória. Se existe uma emissora universitária na cidade, a operadora é obrigada a ceder 24 horas sem ingerência. Já passei por algumas situações em que a operadora quis interferir, saber melhor a programação. Mas, a lei não respalda isso. Se assim fosse, a operadora teria que ter ingerência, também, na Globo, no SBT, Record e na Band.
O que houve depois foi uma questão de que o Fundo Nacional de Telecomunicações haveria um percentual destinado para a programação das TVs universitárias e comunitárias. Isso não é para as TVs, é para gerar conteúdos para as TVs. Nós conseguimos administrar, pelo menos, o que seria produzido, através de três editais de 60 milhões ao todo,. Esses processos seletivos têm ajudado muitas produtoras que fornecem conteúdos de qualidade, inclusive com legendas e libras para as TVs universitárias, o que foi uma exigência nossa. Isso é importante, porque o custo da acessibilidade para produções audiovisuais pode chegar a R$ 300 reais o minuto. Recebemos aí cerca de 120 horas por ano de conteúdo inédito já com o closed caption e libras, pelo menos durante seis meses para as TVs universitárias e comunitárias. A legislação permitiu isso.
A interpretação da legislação poderia ser "vamos dar esse dinheiro para as TV's produzirem", mas isso eles não quiseram de jeito algum por causa do campo das TV's comunitárias, algumas das quais vendem anúncios, enfim, não respeitam a legislação.
Outra grande briga nossa foi em relação a incentivos de aquisição de equipamentos nas mesmas condições das TV's comerciais, mas não conseguimos. Seria muito bom as emissoras universitárias estruturarem melhor os estúdios e outros setores, desfrutando de carência, juros subsidiados de 1% ao mês para pagar em 15 anos ou até menos. A gente queria ter acesso a essas condições. A reforma de um estúdio de uma TV pequena custa em torno de 3 ou 4 milhões de reais, por exemplo.
Teve canal, como a TV Caxias do Sul, em rede aberta, que não teve incentivo para se digitalizar. Acabou deixando de operar. Por que faltou apoio? Porque era uma emissora educativa, não era comercial.
O que a gente queria é isonomia. Se serve para um, serve para outro que seja do mesmo segmento. Mas, as TV's comerciais não querem que a gente tenha audiência. Lá em 2006 e 2007, a gente brigou para que cada emissora de TV universitária tenha um canal digital. Nós chegamos a ouvir um senador dizer: "por que vocês querem isso? Ninguém assiste vocês".
Eu acho que a legislação simplesmente aceitou a gente. Tiveram que nos engolir, mas depois disso não querem que a gente exista. Por isso, o fato de a ABTU existir já é uma grande coisa, uma grande vitória. A associação das TV's educativas deixou de existir. Quando eles querem, inviabilizam os projetos e é muito difícil funcionar. Nós estamos aí, já há 20 anos.
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