Entrevista com o secretário regional da SBPC no DF, Cássio Laranjeiras

A Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC) realizou no dia 07 de maio mais uma Marcha Pela Ciência. Dessa vez, as atividades foram online, por cauda da pandemia provocada pelo novo coronavírus. O objetivo foi aumentar a visibilidade da Ciência, Tecnologia & Inovação e fortalecer a necessidade de investimento público em pesquisa e educação, tanto para o desenvolvimento do país, quanto para as estratégias de combate à Covid-19.

A programação nacional foi composta, basicamente, por dezenas de debates realizados através de videoconferências e por tuitaços com hashtags que faziam referência ao confinamento - #paCTopelavida! #FiqueEmCasacomCiência foram duas das principais hashtags, chegando a ficar entre os tópicos mais comentados no Twitter. As atividades foram coordenadas pela SBPC nacional, tendo as secretarias regionais como articuladoras e operadoras do processo. 

O blog Dissertação Sobre Divulgação Científica conversou com o novo secretário da SBPC no Distrito Federal (DF), Cássio Laranjeiras. O professor de Física da Universidade de Brasília (UnB) falou sobre a Marcha, o planejamento de outros projetos, a importância de investir, também, em educação científica e sobre as informações falsas sobre a ciência que circulam nas redes sociais. Confira a entrevista!



O prof. Cássio Laranjeiras, do Depto. de Física da UnB,
assumiu em 2020 a Secretaria Regional da SBPC no DF.



Que avaliação você faz da primeira Marcha Virtual Pela Ciência?
A nossa avaliação é a de que essa primeira Marcha Virtual Pela Ciência cumpriu plenamente os seus objetivos, dando visibilidade às ações da comunidade científica em defesa do conhecimento científico e do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) no Brasil.

Como funciona a organização de um evento virtual como esse? Qual foi a participação da Secretaria Regional da SBPC no DF? 
O evento teve a coordenação da SBPC/Nacional, enquanto que às Regionais coube a operacionalização das atividades em nível regional e local.

Como você avalia a adesão dos acadêmicos e das associações acadêmicas à Marcha?
A adesão foi significativa, tanto por parte das associações acadêmicas vinculadas à SBPC, quanto por parte das pesquisadoras e dos pesquisadores, de uma maneira geral. Além dos painéis virtuais transmitidos pela internet, que compuseram a programação nacional, tivemos no Distrito Federal dois painéis que contaram com significativa participação da comunidade científica e do público em geral (acesse aqui o painel 1 e o painel 2).

Na sua opinião, houve apoio da imprensa tradicional para a realização da Marcha? Qual é a importância do apoio dos veículos tradicionais para as pautas de ciência e tecnologia?
O apoio da imprensa tradicional foi e continua sendo aquém do que consideramos necessário para uma temática tão central para o Brasil. As pautas na área de ciência e tecnologia nos veículos tradicionais quase sempre estão a reboque de situações emergenciais, como por exemplo àquela da pandemia da Covid-19. Em momentos críticos como o que vivemos, percebe-se claramente o quanto poderíamos ter avançado mais no combate à pandemia se a educação científica da sociedade em geral fosse tomada como relevante.

O que o slogan "pacto pela vida", adotado pela Marcha, revela? O que se pretende comunicar para a sociedade? 
A intenção é enfatizar que a ciência, como uma produção social, é parceira da sociedade e trabalha pela vida e pelo bem-estar da humanidade.

Qual é o papel da SBPC no combate ao novo coronavírus?
Como uma Sociedade que trabalha pelo progresso da ciência, o seu papel no contato com a sociedade é, além de dar visibilidade à produção científica, trabalhar para que o nosso sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação tenha o apoio adequado e, também, para haver políticas públicas efetivas que possibilitem o seu pleno desenvolvimento. Nesta direção, um sistema C,T&I bem organizado é uma efetiva forma de contribuição para este momento crítico da pandemia da Covid-19.

Como tem sido as articulações da Secretaria Regional da SBPC no DF? Que tipo de ações e interlocuções tem havido, não só em relação à Marcha, mas aos trabalhos como um todo?
A SBPC-DF vem trabalhando no sentido de aumentar a coesão da comunidade científica no Distrito Federal e potencializar a nossa relação com a sociedade. Além de gestões junto aos poderes Legislativo e Executivo, no sentido de garantir recursos para a C,T&I no DF, enfatizando a necessidade de definição clara de uma política distrital da área, trabalhamos também junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). 

A SBPC criou recentemente duas séries de vídeos no Youtube chamadas “A Ciência que Fazemos no DF” e “Ciência na Escola”. Na primeira, pesquisadores e pesquisadoras falam, de maneira bem objetiva, sobre os estudos que têm desenvolvido. Na outra série, estudantes da educação básica (ensinos Fundamental e Médio) falam dos trabalhos de iniciação à ciência dos quais participam nas escolas.

Quais são as principais bandeiras da SBPC hoje em dia? E as principais pautas políticas que preocupam a comunidade acadêmica? 
São algumas pautas. Vou elencar para ficar mais fácil de compreender: 

1) o fortalecimento do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que tem sofrido cortes absurdos nos últimos anos; 

2) o trabalho para alcançarmos no Brasil a meta de investimento entre 2% e 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); 

3) a busca para implementarmos no Brasil o Marco Legal que permita segurança jurídica e operacional ao SNCTI; 

4) o fortalecimento das agências de fomento à pesquisa e formação de recursos humanos;

5) a ampliação do diálogo com as entidades científicas, tecnológicas e empresariais, além das instituições de pesquisa e universidades; 

6) a interlocução com os formuladores de políticas públicas em C,T&I; 

7) e a melhora da qualidade da educação em todos os níveis, sobretudo a educação científica e tecnológica.

Na sua opinião, qual é a importância das redes sociais para a ciência e para a divulgação científica? E como esses instrumentos têm sido apropriados pela comunidade científica?
As redes sociais sempre foram muito importantes para a ciência e para a educação científica, sobretudo agora em que novas tecnologias agregaram significativo potencial de alcance rápido da população. Como educadores, não podemos abrir mão dessas ferramentas. Ainda precisamos avançar muito, mas já identificamos esse caminho como fundamental.

Muito tem sido comentado sobre as "fake sciences", informações falsas sobre ciência. Como combatê-las? A comunidade acadêmica está sabendo lidar com esse tipo de conteúdo?
Mais do que combater informações falsas, precisamos investir tempo e esforço coordenado e cooperativo na disseminação de informações bem fundamentadas. O maior combate à falsidade das informações e à desonestidade intelectual no campo científico é a solidez de uma educação científica bem conduzida. Essa é a nossa responsabilidade, e para isso devemos convergir esforços.

A SBPC está fazendo campanha para conseguir mais associados. Qual é a importância de a comunidade científica aderir à Sociedade?
A nossa campanha por novos sócios é permanente. Basta entrar na plataforma da SBPC na internet e clicar na aba “Associe-se à SBPC”. A unidade da comunidade científica é fundamental para que possamos avançar na defesa de agendas de interesse da educação, ciência, tecnologia e inovação no Brasil.

Há algum tópico sobre o qual você gostaria de comentar, mas não abordamos na entrevista?
A Ciência e a Tecnologia são partes integrantes da cultura e, portanto, uma educação cidadã, genuinamente construída, há que contemplá-las de maneira integrada e convergente com todas as áreas de conhecimento.

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