Editora da UFRJ libera download gratuito do livro “Ciência e Liberdade”, de José Leite Lopes




Coletânea de textos de um dos mais importantes físicos brasileiros foi aberta para download gratuito no site da Editora UFRJ, como parte da celebração do centenário da universidade


A Editora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) abriu para download gratuito em seu site o livro “Ciência e Liberdade – Escritos sobre Ciência e Educação no Brasil”, uma coletânea de textos do prestigiado físico e pensador José Leite Lopes (1918-2006).

Publicado em 1998 com prefácio do cientista César Lattes, “Ciência e Liberdade” entrou para a lista de livros que serão disponibilizados gratuitamente pela Editora UFRJ, ao longo de 2020, em comemoração ao centenário da universidade.

“Ciência e Liberdade” foi organizado, em 1998, pelo professor do Instituto de Física da UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, que participou nesta quinta-feira (21/5) de um debate online promovido pela editora para divulgação do livro. Além de Moreira, fizeram parte do webnário Ricardo Galvão, professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e membro da Academia Brasileira de Ciências.

Também participaram dois dos filhos de Leite Lopes, Ângela Leite Lopes, professora titular aposentada da Escola de Belas Artes da UFRJ e José Sérgio Leite Lopes, professor titular do Museu Nacional da UFRJ e coordenador do Programa de Memória dos Movimentos Sociais (Memov), do Fórum de Ciência e Cultura/UFRJ.

Mediado pelo diretor da Editora UFRJ, Marcelo Jacques de Moraes, o encontro virtual fez parte do projeto “100 anos, 100 livros”, cuja proposta é promover debates em torno dos livros do catálogo da Editora e de temas de interesse da sociedade.

José Leite Lopes nasceu em 1918 no Recife, em meio à pandemia da Gripe Espanhola. Se formou em Química em 1939 e se pós-graduou em Física, área para a qual dedicou sua vida, carreira e pesquisas. Seu trabalho mais notório foi um artigo, de 1958, no qual previu a existência de uma nova partícula (bóson vetorial neutro), usando uma analogia entre a interação nuclear fraca e o eletromagnetismo. Sua proposição contribuiu para pesquisas dos cientistas Weinberg, Glashow e Salam em seus trabalhos sobre a unificação dessas interações, que receberam o Nobel da Física em 1979.

Mas além das pesquisas científicas, Leite Lopes deu uma grande contribuição institucional à ciência brasileira como um todo e à física em particular. Participou da criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e foi fundador da Escola Latino-americana de Física (Elaf). Foi um dos signatários da criação da SBPC em 1948, instituição à qual ficou ligado durante quase toda a vida como conselheiro, vice-presidente e, depois, presidente de honra.

“Escolhemos uns seis ou sete textos dele anteriores a 64, o ano do golpe civil-militar, e um número mais ou menos equivalente (escritos) no tempo em que ele estava no exílio, para mostrar que ele permaneceu atuando todo o tempo”, explicou Moreira. Segundo ele, os textos que fazem parte da coletânea refletem o “cidadão brasileiro” Lopes Leite, que abordava questões da época, como a dependência da América Latina, a questão dos direitos humanos – muito aguda no período de 1970 – e depois, já no período de redemocratização do País, sua preocupação com a universidade, com o desenvolvimento da ciência brasileira, com a educação básica e secundária.

Ao longo de 50 anos abrangidos pelos textos, Lopes insiste em alguns pontos que considera centrais: a importância da pesquisa de qualidade nas universidades, a necessidade de formação de pessoal qualificado, o estímulo aos jovens para a pesquisa, e a conexão da ciência com a cultura, afirmou Moreira. “Naquele momento, isso não era óbvio, como hoje não é óbvio para alguns setores obscurantistas da sociedade”, disse o presidente da SBPC.

Para o filho José Sergio Leite Lopes, o livro tem “uma atualidade persistente”. “No texto ‘A ciência e a intolerância’, de 1997, ele fazia uma previsão involuntária da ‘pandemia de intolerância’ dos últimos anos que depois viria se confirmar”, comentou José Sérgio.

Ângela Leite Lopes ressaltou o aspecto artístico do pai que, além de cientista, era também pintor. “Ele tinha uma visão sempre cultural, tem um texto em que ele fala das tradições, inclusive as nossas pré-colombianas, a visão de um cientista comprometido com a sociedade, a soberania, a cidadania”, afirmou Ângela. O livro traz diversas fotos históricas da ciência brasileira, entre 1945 e 1998, e, também, fotos de alguns de seus quadros.

O físico Ricardo Galvão contou que trabalhou com Leite Lopes no CBPF e que o admirava não só pelo seu conhecimento científico, mas também pela forma que entendia a importância social da ciência, não só do ponto de vista da produção do conhecimento. Relatando uma conversa sobre os temas mais místicos de sua pintura, Galvão afirmou: “É para mostrar para os jovens como é importante ter uma pessoa como ele, que não pensa em caixinhas, que a nossa ciência, nossa cultura, nossas sociedades dependem desses grandes criadores e estes nunca ficam presos dentro de uma caixa”.

O livro “Ciência e Liberdade – Escritos sobre Ciência e Educação no Brasil” pode ser baixado na íntegra AQUI.


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