Folha: Novo ministro da Ciência defendeu posições contrárias às da academia


Escolhido pela presidente Dilma Rousseff para dirigir o Ministério da Ciência e Tecnologia em seu segundo mandato, o atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo, defendeu posições contrárias aos interesses da comunidade científica como deputado federal, antes de ir para o governo.

Em 1994, Rebelo apresentou um projeto de lei que proibia a "adoção, pelos órgãos públicos, de inovação tecnológica poupadora de mão-de-obra". O ministério que Rebelo vai dirigir agora é responsável por políticas de apoio à pesquisa e à inovação nas universidades e na indústria.

Rebelo também criticou no passado políticas de prevenção do aquecimento global, outra área de interesse do ministério, que é responsável pelos relatórios que o Brasil deve apresentar ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, que monitora a evolução do problema no planeta.

Em 2010, como relator do projeto de lei que restringiu os limites de proteção a vegetação natural no Código Florestal, Aldo Rebelo exaltou sua "devoção ao materialismo dialético como ciência da natureza" para se referir às previsões de aumento da temperatura global como "cientificismo [que] tem por trás o controle dos padrões de consumo dos países pobres".

Na mesma carta em que fez essa afirmação, Rebelo reforçou seu antagonismo com cientistas que atuam na área de recursos naturais, ao associar o aquecimento global ao "chamado movimento ambientalista internacional", que segundo ele, "nada mais é, em sua essência geopolítica, que uma cabeça de ponte do imperialismo".

A escolha de Rebelo é "preocupante para a sociedade brasileira", segundo Paulo Artaxo, físico da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências, do IPCC e um dos quatro brasileiros na lista dos 3.215 pesquisadores de produção acadêmica de maior impacto no mundo.

"Obviamente o novo ministro não tem qualquer afinidade com essa área, nem o conhecimento de sua complexidade", disse Artaxo. "É lamentável o critério que levou a essa escolha para um cargo de importância estratégica."


NACIONALISMO
Aos 58 anos, deputado por São Paulo, ele completa seis mandatos consecutivos desde 1991, sempre pelo PC do B. Sua atuação parlamentar foi marcada pelo nacionalismo, que se tornou mais visível em propostas legislativas como a da denominação do dia 31 de outubro, conhecido como Dia das Bruxas ou Halloween, em Dia do Saci-Pererê.

Rebelo também propôs projeto de lei para a proibição de estrangeirismos na língua portuguesa, e processou o escritor Millôr Fernandes (1924-2012) por ter chamado essa iniciativa de "idioletice".

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