Rolezinhos: o beijo na pauta da política pública

Imagem extraída do blog Cinegnose

Bruno Lara.

Os colunistas e os acadêmicos devem estar, profissionalmente, pulando de alegria com a efervescência social instalada no Brasil já há algum tempo – efervescência positiva e estimuladora, diga-se de passagem. Os rolezinhos são apenas mais um dos recentes episódios com ricas contribuições para a realização de entrevistas e palestras, a elaboração de artigos e reflexões sobre tópicos diversos. Só a discussão sobre os limites dos espaços público e privado já nos remete a profundos pensamentos Filosofia e Sociologia afora, incorporando teorias de Habermas, Hannah Arendt, entre outros. 

Toda essa polêmica é importante e favorece o amadurecimento social, a participação na vida pública e política, assim como a elevação da linha-base do respeito e aceitabilidade das condições de vida. Do ponto de vista do consumo de produtos e serviços de empresas privadas, somos muito mais exigentes do que em 1990, por exemplo, quando foi criado o Código de Defesa do Consumidor. As regras atualmente são bem mais rígidas e obrigam as empresas a adotarem uma infinidade de medidas para atenderem ao crescente padrão no Brasil (se adotam, já são outros 514). Claro, trata-se de um processo em constante aperfeiçoamento, que depende dos cidadãos utilizarem muitos dos recursos hoje disponíveis (e talvez nem tanto usufruídos), seja pelo Ministério Público, pelas agências reguladoras, as ouvidorias, o Procon, a própria imprensa etc.

É importante nos conscientizarmos que a sociedade tem o poder de escolher ser apática e massa de manobra ou ser ator (ou atriz) político (a) de peso com privilegiadas condições de negociações. Veja a PEC 37, cuja aprovação era tida como certa no Congresso, mas um “passe de mágica” a derrubou. Toma-se também como exemplo a estabilidade do valor do transporte público ano passado em diversas regiões do país.

Arthur Schopenhauer dizia que todo fruto delicioso amadurece lentamente, mas já é hora de darmos um salto, ou ficaremos podres ainda verdes. A nossa exigência crescente em relação ao setor privado, que ainda assim se diverte um bocado aqui (os valores “$urreais” no Rio para a Copa são bons exemplos), poderia ampliar-se para a esfera pública também (pelo menos aparentemente tende a estar). Classificar determinados segmentos públicos como vergonha seria dirigir-lhes um elogio.

Sem explorar muito a legitimidade dos adolescentes entrarem em massa nos shoppings, penso ser muito válido essa geração estar fazendo barulho, interferindo na História, incomodando e alterando rotinas dos senhores das canetas. Dia desses um dos organizadores de um dos primeiros rolezinhos estava na bancada do Jornal da Record News, com mais tempo de TV do que muitos políticos: diante do Heródoto Barbeiro, boné na cabeça virado para trás e frases de efeito, ainda que com ar tímido de quem tem mais afinidade com o skate do que com as câmeras e microfones.

Mas... o grande desafio é fazer com que as articulações não ocorram apenas no ambiente do espetáculo, onde é comum os temas surgirem, serem discutidos e saírem de cena sem que os resultados sejam desfrutados, ou pelo menos que seja apresentado um horizonte de melhorias. Fazer com que tais sementes tornem-se reais e permanentes políticas públicas já são outros 514! 

E como a vida é curta, às vezes é preferível – e talvez menos cansativo - nos tornarmos cidadãos por consumo do que por conflitos políticos da vida pública. Embora, por questões óbvias, o campo político tenha incorporado as discussões, essa garotada, ao contrário de junho de 2013, quer (ou parece querer) mesmo é espaço para lazer, andar com roupas de marca e dar “beijo na boca” (sic)!

Comentários

  1. o rolezinho e uma vergonha para um pais que quer se desenvolvore

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