Livro aborda gêneros acadêmicos em jornalismo
"Leitura e produção de gêneros acadêmicos em jornalismo:
brincadeira que dá prazer"
TARGINO, M. das G.; MAGALHÃES, A. M. Leitura e produção de
gêneros acadêmicos em jornalismo. Teresina: Edufpi, 2012.
Antonio Teixeira de Barros[1]
A obra em
referência resulta da seleção de textos produzidos por alunos e professores de
curso de pós-graduação em jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Trata-se de iniciativa cujo mérito principal é dinamizar e renovar as práticas
pedagógicas relacionadas ao ensino de jornalismo, tornando a pós-graduação um
espaço de inovação acadêmica. A produção, coordenada pela Professora Pós-Doutora
Maria das Graças Targino, ocorreu a partir de um eixo temático: os gêneros
textuais e suas diversas formas de apresentação, o que possibilitou à turma
aliar o estudo de uma temática curricular com a exploração de formatos
criativos, num contexto de reconfiguração e redefinição dos próprios gêneros. A
coletânea apresenta um apanhado do resultado textual de um conjunto de 10
atividades realizadas mediante técnicas, recursos e dinâmicas variadas,
incluindo redação a partir da observação direta de cenários e situações
urbanas, produção parafrástica tendo material jornalístico, músicas e filmes como
pretextos, além de produção textual livre dos alunos.
A análise do escopo da proposta aliada ao conjunto dos
textos permite algumas observações e comentários em termos de perspectivas
teóricas que conectam o jornalismo e o contexto educativo-universitário e a relação
da universidade com as mídias locais. Mas o livro também remete a outras
abordagens caras ao campo educacional, tais como a educação difusa e a conexão
das práticas educativas com o campo experiencial e as tramas cotidianas.
Sob o prisma teórico é relevante ressaltar que os gêneros
constituem o ponto de articulação entre os aspectos econômicos e culturais dos
bens produzidos pelas indústrias culturais e sua dimensão simbólica, pois o
sujeito que as produz mobiliza recursos, baseia-se em regras e implementa
esquemas para atingir um receptor específico. Isso confirma o pressuposto dos
estudos culturais acerca da interdependência entre as instâncias da produção e
da recepção. O gênero, portanto, é a ponte entre as esferas da produção e da
recepção, com interferências múltiplas sobre ambas. Afinal, docentes e
estudantes atuam como intérpretes de sentido do ambiente universitário e se
relacionam com os demais agentes do mundo social e da cultura que dá suporte
social à universidade e suas práticas de formação e inovação cultural. São
intérpretes políticos do seu contexto, a partir da relação com suas fontes de
informação, os demais atores sociais, com os quais interagem nas rotinas e
dinâmicas decorrentes de suas atividades acadêmicas, além de suas habilidades
para observação e análise da realidade.
Outro aspecto a ser destacado é a conexão da proposta
pedagógica com o contexto da cultura local, o que se revela pela divulgação de
boa parte dos textos dos estudantes da disciplina em jornais, revistas e
portais integrados às mídias locais. Ao mesmo tempo em que conferem
visibilidade a uma iniciativa da universidade, as publicações também atuam como
insumos simbólicos para dinamizar a esfera da discutibilidade pública, uma vez
que se trata de textos que estimulam reflexão e discussão. Portanto, além de
resultar de uma atividade pedagógica, tal produção também atinge o nível da
educação difusa, do ponto de vista dos leitores e dos veículos locais que
publicam os textos. Esse nível educativo difuso abrange a dimensão extraescolar
de formação cultural.
Tal escopo analítico da obra em exame, mesmo não figurando
em primeiro plano, envolve uma concepção de educação integrada às relações sociais
e às atividades do cotidiano, isto é, as relações educativas não especializadas
e não regulamentadas, inseridas nas novas dinâmicas de socialização e
aprendizagem da chamada “modernidade líquida” e da “sociedade aprendente”. Em
termos práticos, essa rede articula, institui e produz enquadramentos ou
molduras socioculturais para que os cidadãos possam dispor de ferramentas cognitivas
de compreensão do mundo e dos processos sociais, incluindo o campo da educação
e da cidadania.
São relações socioculturais ancoradas nas dinâmicas do
cotidiano. A observação do dia a dia, aliás, é um dos eixos que orienta a
produção dos textos. Assim, tanto os educadores como os profissionais do campo
da mídia traduzem as informações oriundas do “mundo vivido” e, desse modo,
contribuem para (re) configurar o espaço argumentativo no ambiente social, na
perspectiva da educação difusa. Essa atuação em rede, com suas estruturas de
mediação simbólica e cultural, funciona como catalisador para a construção de
trilhas sociais e culturais de interpretação da complexidade das pautas
educativas e culturais no contexto atual. Afinal, educação e mídia constituem
dois campos fundamentais da reprodução e da renovação cultural e do
fortalecimento das redes de capital social.
Do ponto de
vista do conteúdo, os textos publicados na coletânea, apontam pistas para
fomentar o debate corrente sobre o dinamismo do atual contexto cultural.
Afinal, vivemos em uma época de redefinição dos vínculos sociais e de mudança
nas configurações sociais, com as mediações tecnológicas. Com efeito, se a
televisão reambientou o lazer na privacidade doméstica e alterou a configuração
dos contatos interpessoais, o compartilhamento de conteúdos pela internet, em
certa medida, resgata a dimensão das relações de reciprocidade, essenciais para
a vida social.
Dessa perspectiva, o compartilhamento de conteúdos
gera novas escalas de proxemia, o que implica a reinvenção de relações e de
laços sociais, além de reavivar formas de reciprocidade. Sob esta ótica, é relevante que a própria universidade se torne um
espaço para fomentar esse processo, a exemplo da experiência pedagógica aqui
relatada.
Uma iniciativa que contribui para renovar as práticas e dinâmicas do
ensino do jornalismo, estimular a formação crítica de novos jornalistas e
potencializar o papel do jornalismo no âmbito da inserção social de conteúdos e
da educação difusa, pilares de uma cultura cívica ativa, participativa e
vigilante do ponto de vista cidadão. Além disso, a visibilidade de práticas
pedagógicas inovadoras e criativas pode suscitar a reflexão não só no campo em
que surgem, mas também nas esferas sociais em que repercutem, inclusive em
áreas afins. No caso em tela, além do jornalismo, podemos considerar
[1] Doutor
em Sociologia e mestre em Comunicação. Docente e pesquisador do Programa de
Mestrado em Ciência Política do Centro de Formação (CEFOR) da Câmara dos
Deputados.
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